Filosofia do skateboard #12 - Podcast tá ligado?

Giovanna Marques

8/5/2025

Salveeee!

Esse é um cumprimento comum no skate, e nada mais justo do que começar assim. Em cada pico que a gente cola, essa é a energia: cumprimentar, trocar ideia e ser humilde. E é assim que começamos esse episódio.

https://medium.com/@Giovanna-Marques/

Na essência do skate, a humildade e o respeito são fundamentais. A gente se cumprimenta muito na rua também, com os dedos entrelaçados, mandando aquela energia positiva. Compartilhamos a mesma paixão.

Eu queria muito fazer esse episódio, mas já adianto que talvez eu nem consiga falar metade do que gostaria. Falar sobre skate é falar da minha história de vida. Muita gente ainda não entende o que é estar na cena, então quero explicar pra quem ainda não está, sabe?

Lembrando que no meu site (giovannamarques.com.br) tem meu portfólio e vídeos sobre meus rolê no YouTube. Pra quem quiser acompanhar.

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Já são 13 anos andando de skate, me dedicando sempre que podia, equilibrando trampo, estudos e o rolê. O skate moldou meu estilo de vida: roupa, conversas, lugares, força, coragem e determinação. Mesmo sendo algo individual, é também coletivo.

Muitos amigos não andam sozinhos. A vibe do skate é aprender, errar, tentar de novo, acertar e comemorar. É ensinar, filmar, competir, ser patrocinado. É uma filosofia que serve pra qualquer esporte ou hobby.

Recomendo fortemente que todos os skatistas participem de ações sociais e voluntárias nas ONGs de skate que temos espalhadas pelas quebradas. Se não tiver, crie uma! Recomendo conhecer o Projeto Rampa, de São Mateus (SP), uma ação que ensina crianças mesmo sem os criadores andarem de skate. Eles têm professores que mudam vidas dando acesso, incentivo e sonho.

O skate é pura determinação, como qualquer coisa que você queira fazer da vida. É adquirir habilidade na prática. Mais que isso: é desbloqueio mental. Você aprende que pode realizar qualquer manobra e, analogamente, qualquer coisa na vida.

É um treino cansativo. Imagina treinar pulando escada e caindo o tempo todo? Mas é normal cair. GUARDAR ISSO NA CABEÇA. Muitas mulheres ficam mais tímidas ao cair, mas eu nem conto quantas vezes caio num dia. Pra acertar uma manobra nova então? É tentar, errar, chutar, o skate bater na canela, até entender seu corpo e acertar. Aprendendo, inclusive, a cair.

É como programar, cozinhar, criar arte... Você vai errar, testar e repetir até conseguir.

Muita gente acha que é fácil... Mas pergunta sobre o processo. Fiquei seis meses tentando flip todo dia, mesmo que fosse só 20 minutos por dia. Trabalhava, ajudava minha família, estudava. E ainda assim segurava no portão chutando flip.

Tive meu primeiro skate com 6 anos. Tinha caveiras, uns demônios... minha mãe sumiu com ele. Com 13 anos comprei outro escondido e comecei a sair pro centro de SP pra andar. Levava pra escola. Descobri as manobras, os "games" (pedra, papel, tesoura pra ver quem começa), os picos e a filosofia.

Não existia a mídia de hoje. Não tinha tecnologia pra assistir ou gravar vídeos. Revistas eram caras. Lembro que em 2015 consegui um pendrive emprestado cheio de vídeos. Foi mágico.

Sempre procurei outras meninas. Era muito difícil. As poucas que existiam moravam longe. Nos víamos em campeonatos. Ajudávamos umas às outras. Trocávamos tênis, porque era difícil achar na nossa numeração. Trocávamos coisas que ganhávamos nos campeonatos.

Naquela época era difícil até ter campeonato. Quando tinha, a premiação era desigual. Os produtos não eram adequados. Mas a vibe era sempre a mesma: irmandade, risadas e resiliência.

Hoje, segundo a RedBull, dos 8,5 milhões de skatistas, 81% são homens e 19% mulheres. E 70% são menores de idade. As crianças dominam agora. Nada a ver com a época do Dogtown.

Skate nas Olimpíadas? Sim. Tivemos desconto de importação por um tempo, mas hoje nem isso. O skate continua caro. E o Brasil, comparado com os gringos, ainda está cru.

Em 2012, Ligiane Xuxa foi a primeira mina pro por shape nacional. Hoje são quantas? Três?

Não sou a favor do skate nas Olimpíadas por diversos motivos: torcida contra, pistas surreais fora da realidade da população, e o sistema injusto com skatistas das antigas.

Muita gente não sabe onde comecei: pista da Zâmbia, extremo sul de SP, Jd. Ângela. Dali andávamos até outros picos improvisados.

O skate é da periferia. Cresceu na classe alta, mas todos precisam ir pra rua sentir o verdadeiro skate. É explodir bolhas. Skatista já foi marginalizado, proibido por lei, perseguido.

Mas vale a pena. Projetos sociais mudam vidas. Skate dá acesso. Faz crianças se sentirem pertencentes. Temos PCDs, paraatletas, mulheres, comunidade LGBTQIA+.

Quem me dera ter tido esse apoio antes. Convido a conhecer: Skate Pra Elas, 2 das Minas e o Projeto Rampa. Estão nas minhas redes.

Projetos cristãos de skate existiram, mas participei de poucos. Mesmo andar sem pressão é válido: só de remar, conversar, fazer amizades.

Ver amigas aprendendo é lindo. E essa essência pode estar em qualquer esporte. Patins, por exemplo, abriu portas pro skate. Mas é preciso coletividade. BMX, por exemplo, precisa cuidar do pico também.

Skate é atitude. Veio da old school, do punk, da rua. "Skate and destroy" é andar na rua, usar aquela borda de mármore com vela, inventar obstáculos. Por isso somos muito visados.

Mas a resenha do pico é sagrada. E sempre vamos querer gravar no pico mais cabreiro com a trick que ninguém mandou ainda.

Cada obstáculo é chance de aprender ou se reencontrar. Quando me dedico, é como "olho de tigre". Tô no foco, mesmo que me machuque. Mas não tem sensação melhor que acertar.

Habilidade vem com prática. Treinar, tentar, desenvolver, ensaiar, experimentar, preparar-se, continuar usando.

Skate é mais que manobra. Revela quem você é quando erra ou cai. Como você reage? Levanta mesmo quando o rolê parece contra?

"Aprender a cair é uma forma de sabedoria" - Nietzsche.

Skate é resiliência. É identidade. Ensina mais que escola ou família. É cair e levantar. Errar e rir. Vibrar e não invejar. Crescer junto. Sem julgamento. Só se divertir. Roupa rasgada, tênis surrado. Liberdade.

Qual foi a última vez que você se permitiu aprender como uma criança? Sem vergonha de errar?

Persistência. Ousadia. Equilíbrio.

Não é sobre ser melhor que ninguém. É você com você mesmo. Na sua luta diária. Skate é vida.

Lembre-se do porquê você começou. Frase do shapes TLG Skateboard.

O medo é o primeiro adversário. A coragem, nosso guia.

A rua é a escola de quem não teve escolha. Vi amigos se perderem por falta de oportunidades. Drogas, crime, acesso fácil. Por isso falo sempre sobre proteger quem está correndo atrás dos seus sonhos.

O skate, como qualquer coletivo, tem problemas: assédios, brigas, drogas. Tem que cuidar da essência. Prezo muito pela minha imagem. Nenhuma marca quer alguém sem postura.

Num campeonato, soltei logo que os patrocinadores estavam vendo tudo. Todo mundo se ajeitou. Falei sobre isso em outro podcast. A imagem que você transmite importa.

Não consumo marcas que não apoio. Não sou representada por quem não representa meus ideais.

Estudar me ajudou a crescer com as marcas. Ajudo coletivos, amigos, esse virou meu propósito: realizar sonhos junto com os meus.

Desde 2012 com "olho de tigre", vontade de viver do skate. Mesmo com nistagmo (só enxergo do lado direito), fui superando.

Em 2016 escrevi uma carta pra mim dizendo que teria algo profissional no skate. Me afastei entre 2017-2021 pra estudar, crescer profissionalmente.

Depois de conquistar isso, voltei a me dedicar ao skate e aos projetos sociais. Trabalhei até no Bradesco como Tech Lead.

Hoje vivo também do skate. Faço freelas de TI, ajudo a cena. Voltei com campeonatos, coletivos, marcas, e-books, vídeos, viagens, ajudando muitos skatistas.

Virei narradora, juíza, team manager, designer, influencer. Criei portfólios, enviei currículos, ajudei como puder. Do mesmo jeito que me ajudaram.

Não esqueço de quem me fortaleceu, com um shape, um tênis. Meus pais nunca me deram nada relacionado a skate. Nem foram me ver em campeonatos. Hoje entenderam que essa fase nunca passou.

Com 16 anos comprava 3 shapes com meu salário. Vendia um, doava outro e usava um. Ajudava skateshops e ganhava comissão. Tinha Instagram com 10k. Andava, postava todos os dias. Mas acabei apagando tudo. Voltei 4 anos depois.

Ganhei mais de 19 pódios. Mas antes não tinha troféu, nem meninas. Não tinha Rayssa Leal mostrando que skate é esporte.

Fui estudar. Crescer financeiramente. Ajudar minha família. Mas o skate sempre esteve comigo. Andava quando podia. Era meu porto seguro.

Nos últimos anos voltei com tudo. Criamos o Festival Skate Cores. Em 2024, no primeiro campeonato no Céu Casa Blanca (Zona Sul de SP), um menino que ganhou um shape meu em 2016 me agradeceu. Disse que mudei algo nele. Isso confirmou meu propósito.

Dar aula de skate desde 2017 me ensinou a ensinar. Entender a personalidade de cada um. E lembrar que humildade é princípio do skate.

Campeonatos injustos me ensinaram muito. Notas, julgamentos... Mas skate é arte. Quem entende, valoriza.

Hoje vejo muito ego no skate. Subcelebridades, manobras no pé, fama. Mas o essencial não pode ser esquecido. Observar e fazer a nossa parte.

Continuo participando de campeonatos pelo legado. Antes, poucas minas. Muitas desistiram pra trabalhar. Domingo é o único dia livre. Cansadas. Sem tempo. Sem apoio.

Representamos. Sempre. Fui a vários campeonatos sem mina. Fui pra representar, não competir.

Hoje participo pra animar, convidar geral, fazer do campeonato um dia de encontro e celebração.

Skate é lindo. Foquemos no que ele tem de melhor.

E você? O que entendeu sobre a essência do skate?

Conseguiria aplicar isso em outro esporte ou hobby?

Frases filosóficas:

"É na queda que se aprende o equilíbrio." — Espinosa

"O que não me mata me fortalece." — Nietzsche

"A coragem é o ponto de partida de toda virtude." — Aristóteles

No fim, o skate não é diferente da vida. Sem erro, não há evolução.

Mesmo com chance de agir igual aos outros, nossa essência nos impede. E no fim, a ideia é morrer jovem o mais tarde possível.

No skate, conheci ídolos, amigos, meu modo de viver. Conheci a rua, a cultura, a diversidade, a humildade.

Vi pessoas enormes me ajudando. E ajudei pessoas que se tornaram gigantes também.

Skate é um jeito de evangelizar, compartilhar palavras e ensinamentos de vida.

Me vi realizada. Dando autógrafos, tirando fotos, escrevendo TCCs, livros, revistas, eventos, projetos sociais, propagandas. Vi pessoas agradecendo. Vi que inspiro.

Inspirei pessoas de outros estados. E fui inspirada por muitos também.

O ciclo continua. E espero que você encontre quem te inspire e que você inspire também.

No fim, é isso que fica de história pra contar.

Espero que tenham gostado. Até a próxima. 😘